A vulnerabilidade de crianças e adolescentes no
ambiente virtual tem
chamado a atenção de pais e educadores sobre os limites para o acesso à internet, já
que eles se tornam os principais alvos para crimes virtuais,
envolvendo desde chantagens e extorsões até casos extremos como a incitação a
ações que coloquem em risco suas vidas. O caso do menino de nove anos, que
supostamente teria sido induzido a se enforcar por conta do desafio da “Boneca Momo”,
no último dia 16, tem assustado muitos pais.
Algumas escolas particulares do Recife
estão emitindo comunicados alertando para a necessidade de observar o
comportamento dos jovens e ter conhecimento sobre o tipo de conteúdo elas estão
compartilhando.
Mãe de uma menina de nove anos, a médica
Catiana Coelho Cabral, 47, disse que sua filha já passou por uma situação que
há deixou em alerta. “Ela tem o Whatsapp, mas
sempre a orientamos a não adicionar números desconhecidos. Uma vez, uma pessoa
foi falar com ela e começou a perguntar o nome, endereço, idade. Ela não
respondeu nada demais, mas, em outro momento, essa pessoa mandou uma foto de
cunho pornográfico, com suas partes íntimas. Imediatamente bloqueamos o número.
Ela ficou muito assustada, correu para nos mostrar e ficou alguns meses sem
querer tocar no celular”,
explica.
A partir desse episódio, o uso do aparelho
passou a ser mais restrito, e tanto a médica quanto seu marido ficam sempre de
olho no que a filha faz na internet.
“No próprio sistema operacional do tablet nós
restringimos os aplicativos que
podem ser baixados. Quando é algum que não corresponde à idade dela, ela não
consegue baixar”, diz. Para o coordenador pedagógico da Cesar School,
Anderson Paulo, que lida diretamente com adolescentes, é essencial que os responsáveis
mantenham o diálogo com seus filhos e acompanhem de perto o que eles estão
fazendo na internet. Ele
afirma que, hoje, há mecanismos acessíveis para fazer esse monitoramento. “Os celulares são
o principal meio de conexão das redes sociais e
toda a internet.
Todos eles têm mecanismos disponíveis para que os pais monitorem o que os
filhos estão fazendo. No próprio sistema operacional do Android tem
como o pai cadastrar o aparelho do seu filho como menor de idade, e você
cadastra sua conta como o responsável por ele. Você também consegue restringir
o acesso daquele aparelho a certos conteúdos”, exemplifica.
Existem softwares gratuitos
e pagos que também conseguem espelhar a tela dos computadores.
Isso significa que o responsável pode ver tudo que seu filho está fazendo em
outro computador, o
que geralmente era feito nos cybers cafés.
Apesar de essas práticas implicarem na
questão do direito a privacidade, argumento comumente utilizado pelos
adolescentes, Anderson Paulo defende que se faz necessário trabalhar na linha
da prevenção. “Infelizmente eles gostam de ser desafiados, e por isso
participam desses jogos absurdos. A linha de prevenção mais eficaz é a própria tecnologia,
além do olhar atento dos pais”, diz. E reforça: “Estamos falando de crianças e adolescentes sob
a tutela dos pais”.
A funcionária pública Sueli Ipolito
Bezerra, 41 anos, tem três filhos e preza pelo diálogo com as crianças quando o
assunto é tecnologia. Ela
disse que sua filha mais velha, de nove anos, chegou da escola falando sobre o
jogo da “Boneca Momo”.
“Ele ouviu das coleguinhas a respeito e veio me perguntar. Pesquisei e mostrei
que a Momo é uma
coisa ruim e perigosa.
Muitos pais preferem não falar desses assuntos para não incitar a curiosidade,
mas eu prefiro que o alerta e as orientações partam da gente”, afirmou.
Sueli disse a filha tem apenas Whatsapp, mas
não a deixa compartilhar informações pessoais e só permite que ela fale com
pessoas conhecidas. Qualquer número estranho é bloqueado.
O que fazer?
A SaferNet Brasil,
associação civil que promove a defesa dos direitos humanos na internet,
instrui que, em casos de ameaça à integridade física, financeira ou emocional,
é necessário que o responsável procure a Polícia Civil para registrar queixa.
Ela também indica caminhos disponíveis nas próprias redes sociais para
facilitar a identificação dos criminosos. No Whatsapp,
é possível exportar a conversa para uma conta de e-mail. Basta o usuário fazer
um backup da conversa, através do menu de configurações no aplicativo. Sobre
o monitoramento,
a entidade discorda do recurso de programas “espiões”.
“Eles não previnem os riscos e compromete o vínculo de confiança que deve
existir entre pais e filhos. Eles precisam conversar de forma franca e aberta
sobre como lidar com esses riscos”, segundo posicionamento da empresa.
Para Sueli, esses mecanismos ainda não são
necessários, mas não descarta a possibilidade de usá-los quando a filha estiver
maior. “Nós estamos sempre orientando, mas sei que a fase dos filtros vai
chegar. Ela entende que não estamos invadindo sua privacidade e tudo que
fazemos é para seu bem. Tentamos falar de todos os assuntos de forma adequada,
para alertar que existem pessoas ruins lá fora”, declara.
Papel das Escolas
A coordenadora pedagógica do Colégio Marista São Luíz,
no Recife, Élida Noya, explica que o uso da tecnologia na escola é tratado
mediante necessidade pedagógica. “Estamos sempre atentos ao que acontece no
contexto social, buscando a veracidade dos fatos e cuidando, em parceria com as
famílias, para que nossos estudantes sejam orientados e esclarecidos diante do
que é posto na mídia e redes sociais”, afirma.
No Colégio Salesiano,
também na Capital, foi emitido um comunicado alertando os pais sobre a
disseminação da “Boneca Momo”.
“Não é preciso pânico, e sim, orientação, informação e atenção. Caso perceba
alguma mudança no comportamento do seu filho é preciso investigar as possíveis
causas. É importante que os pais estabeleçam uma relação de confiança e
aproximação com os filhos para que possam orientá-los e acompanhá-los de forma
tranquila e saudável”, declara Isabel Pena, psicóloga da unidade de ensino.
Preocupada com a repercussão desse tipo de jogo virtual e
suicídios entre crianças e adolescentes,
a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho começou ações de prevenção juntos a
comunidades. A estratégia alia as Secretarias de Educação e Saúde para acolher
e esclarece alunos e pais sobre as armadilhas desses dispositivos on-line.
Na última sexta-feira, a ação aconteceu na Escola Municipal Professora Maria
José Paiva, em Ponte dos Carvalhos, onde o psicólogo Wandeilton França, abordou
os principais sinais e formas de prevenção da autodestruição para os alunos do
2º ano do ensino fundamental e seus parentes.
Caso Momo
A delegada Thais Galba, do Departamento de
Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), disse
que não há prazo específico para a conclusão da perícia do Instituto de
Criminalística no celular e tablet pertencente
a Arthur Luiz Barros. De acordo com a investigadora, nenhuma linha de
investigação foi descartada, mas os pais da criança não acreditam em suicídio.
“Nós já ouvimos alguns familiares e
vizinhos. Temos mais algumas pessoas para ouvir. Nada foi descartado, por
enquanto. Os pais relataram um menino gentil, atencioso, educado e sem nenhum
problema psicológico ou comportamento estranho”, disse em entrevista a Folha de Pernambuco.
A mãe da criança, a professora Jany Nascimento disse à polícia não ter visto o
vídeo ou o desafio no celular da criança, mas que, “certa vez, o filho mostrou a boneca Momo no
celular e que, posteriormente ao fato, ela soube que essa boneca trazia
um desafio”, explicou a delegada.
Disponível
em: https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/cotidiano/2018/08/25/NWS,79121,70,449,NOTICIAS,2190-JOGOS-VIRTUAIS-AMEACADORES-COLOCAM-FAMILIAS-ALERTA.aspx